No artigo anterior, percorremos o caminho de um dado ambiental, desde o sensor no campo até seu registro permanente em blockchain. Mas uma pergunta permanece: onde esses dados seriam registrados? Em qual rede? Mantida por quem?
A resposta importa. Pouco adianta uma tecnologia robusta se ela depende de infraestruturas privadas, instáveis ou controladas por interesses opacos. Para aplicações de interesse público, a rede precisa ser tão confiável quanto os dados que carrega. E é aqui que o Brasil apresenta algo pouco conhecido, mas significativo: já existe uma infraestrutura pública de blockchain em operação, construída por instituições do próprio Estado.
A Rede Blockchain Brasil
A RBB (Rede Blockchain Brasil) foi criada em 2022 por meio de um Acordo de Cooperação entre o BNDES e o Tribunal de Contas da União. Trata-se de uma rede público-permissionada: pública porque qualquer cidadão pode consultar os dados registrados; permissionada porque os nós que validam transações são operados por instituições previamente autorizadas, com responsabilidades definidas.
Esse modelo resolve um dilema comum: redes totalmente abertas oferecem transparência, mas apresentam barreiras regulatórias e operacionais para o setor público. Redes privadas são mais simples de operar, mas limitam o acesso e a auditabilidade. A RBB busca o melhor dos dois mundos: transparência de rede pública com a governança e a previsibilidade de uma rede permissionada.
A rede utiliza Hyperledger Besu, uma implementação de código aberto baseada em Ethereum, e já conta com a participação de diversas instituições públicas. Sua arquitetura permite que órgãos governamentais, universidades e organizações de interesse público compartilhem uma infraestrutura comum, reduzindo custos e removendo barreiras de entrada para quem deseja inovar com blockchain no setor público.
Pesquisa e experimentação: o Projeto Ilíada
Se a RBB é a rede em operação, o Projeto Ilíada é o laboratório. Coordenado pela Softex e executado pela RNP (Rede Nacional de Ensino e Pesquisa) em parceria com o CPQD, o Ilíada integra os Programas Prioritários de Informática do governo federal. Seu objetivo é amadurecer a tecnologia blockchain no contexto brasileiro, criando um observatório e um ambiente de testes para estudar, experimentar e validar aplicações antes que cheguem à produção.
O Ilíada funciona como uma ponte entre a pesquisa acadêmica e a implementação real. Permite que desenvolvedores, pesquisadores e gestores públicos testem soluções em ambiente controlado, identifiquem problemas e refinem abordagens sem comprometer sistemas em operação. É o tipo de infraestrutura que diferencia países quando falamos sobre inovação.
Um ecossistema em formação
O que emerge desse cenário é um ecossistema. De um lado, uma rede pública operacional com governança institucional. De outro, um ambiente de pesquisa e desenvolvimento com recursos e expertise técnica. No meio, aplicações concretas que começam a ocupar essa infraestrutura: rastreabilidade de recursos, certificação de documentos, transparência em processos públicos e, por que não, monitoramento ambiental.
Para iniciativas como a nossa, que trabalham com certificação ambiental e dados climáticos verificáveis, essa infraestrutura não é detalhe técnico. É fundação. Saber que existe uma rede pública brasileira, mantida por instituições auditáveis, operando sobre tecnologia aberta, muda o horizonte do que é possível construir.
Quer saber mais?
No próximo episódio do nosso podcast, conversaremos com os responsáveis por essas iniciativas, saber melhor sobre quais desafios enfrentam e o que esperam para os próximos anos. Se você quer entender como o Brasil está se posicionando na infraestrutura digital do futuro, não perca.